domingo, julho 06, 2008

Zona de Conforto que só A Dor é capaz de proporcionar

Zona de Conforto que só A Dor é capaz de proporcionar
por Juliana Barreto

Acordei e fui verificar minha mais recente produção textual, ou seja, reprodução do meu intelecto, dos meus sentimentos, do que há de mais íntimo em mim, do meu mais profundo eu, enfim o que escrevi ontem ao chegar em casa e que por fim só descobri hoje ao acordar. E eis que cheguei a uma conclusão desgraçada, sofrida, mas profundamente verdadeira. Como eu estava adorando sofrer por você! Isso me fazia produzir loucamente, a ponto de chegar a produzir minha tão sonhada obra. Mas dado ao fato de que já não conseguia produzir tanto assim, me peguei curada e sem saber se isso era bom ou ruim. Tentei uma última vez, apelativamente, ainda me colocar aos seus braços, na ânsia de fugir de um novo amor, mas eis que você foge mais uma vez, como sempre fugiu. E eu me pego incrédula a desconfiar, que talvez inconscientemente tenha mando essa mensagem para você, pois foi o melhor que poderia ter feito por mim. Ao ignorar minha busca por você, busca essa, e só agora compreendo, não exatamente por você, mas uma fuga de mim mesma. Melhor seria ter permanecido em paz, na mais completa paz da minha zona de conforto, do meu sofrimento inabalável e tão reconfortantemente tranqüilo. Não precisaria me arriscar a sofrer novamente. Caída ali, totalmente esmagada pelo sentimento dilacerante do sofrimento de ter perdido um amor. Pronto, zona absoluta de conforto, não estaria sujeita a sofrer novamente, a ter que caminhar pelos difíceis ladrilhos da desilusão. Zona absoluta de conforto, ponto final. Sofro por ele sim, choro por ele sim, e quero ficar exatamente aqui, não me chamem, não me animem, não me façam ter o trabalho de gostar de um outro alguém. Deixem-me exatamente aqui, onde estou, com meu sofrimento, em paz. Um homem com uma dor é muito mais elegante, já dizia Zélia Duncan. E como ela estava certa, me sentia exatamente assim, eu carregava o peso da dor como se carregasse uma medalha, uma coroa, um milhão de dólares ou coisa que os valha. Na verdade estava simplesmente ancorada, protegida pela minha mais feliz zona de conforto do sofrer. Ópios, édens, analgésicos, não me toquem nessa dor. Ela é tudo que me sobra e Sofrer seria minha primeira e última obra, mas não mais. A vida agora é tudo que me sobra e Viver será a nossa última obra.
Obrigada pela Dor.

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