sexta-feira, janeiro 23, 2009

Icebergs

Calmaria… Sem sopro de vento fica mais difícil enxergar um iceberg. Alguns dizem poder sentir o cheiro do gelo de longe... Talvez por já ter conhecido e encontrado alguns... Algumas pessoas, que poderiam facilmente ser confundidas com grandes, enormes e, muitas vezes, invisíveis icebergs em sua grandiosidade.
Icebergs têm o poder de cortar, atravessar tudo e qualquer coisa que ouse encostar neles. Portanto, a menor percepção da presença de um iceberg devemos tentar mais que depressa, com todas as nossas forças, desviarmos do todo poderoso, sempre confiante; embora alguns desavisados, inocentes crentes corajosos, se arrisquem a chegar perto e, até mesmo, tocar para, ao toque do gelo, sentir o calor que o gelo é capaz de causar. Pois é, gelo também queima, corta... E, se passamos muito tempo perto dele, tocando-o, sentindo-o, nossa pele fica avermelhada, ardendo em chamas! Por tudo isso, acredito que há de se temer, tomar algumas precauções ao sentir a calmaria se aproximar. Talvez esteja ali um grande iceberg a nos afundar, ou pelo menos, a nos afogar por alguns instantes, quando, momentos depois, emergimos na superfície da água, já quase sem fôlego, buscando ar para respirar novamente e, enfim, sobreviver.
Pois ao final, só precisamos disso, de AR, ardendo ou não, mas entrando e saindo dos nossos pulmões.
E quanto a mim, tenho tudo que preciso comigo, ar em meus pulmões e pedaços de papeis, às vezes, até um PC ao meu alcance, para poder fazer tudo valer à pena (até mesmo, grandes icebergs)!!!

Diário de tua Ausência

Gostaria que nesse exato momento você me imaginasse te falando em voz baixa. Falamos sempre baixo quando somos profundamente sinceros e quando queremos verdadeiramente que acreditem em nossas palavras. E tudo o que aqui escrevo é verdade.
Pensei em você, pensei em te fazer companhia, pensei em te dizer tantas coisas, pensei que queria ouvir muitas coisas de você, e na ausência de você, ou de saber o que fazer, resolvi simplesmente escrever.
Sempre penso no porquê de escrever. Tenho medo que todas as palavras que escrevo não passem de fragmentos de uma confissão de momento. Fico sempre com a sensação que falta o essencial, que o mais importante ficou por dizer.
Mas foi assim, escrever foi o que decidi fazer. E só peço que guardes as palavras escritas aqui para sempre em seu coração.
Escrevemos porque ninguém pode nos ouvir, às vezes por opção, e às vezes pela falta dela. Eu escrevo para você porque você está longe.
Não sei ao certo se espero por você. Mas me agrada a idéia de pensar na espera. Acredito que todas as mulheres sempre esperam pelos homens, ou, pelo menos, pelo homem certo, estejam eles longe ou perto, ao que isso chamo de ‘vocação de Penélope’.
Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses (acredito não são muitas as pessoas, que ainda nos dias de hoje, concordariam comigo), que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e roubasse o trono de Ítaca. A lenda não diz se ela satisfez suas necessidades sexuais com outros homens, por isso nunca saberei se aquela mulher era realmente um modelo abnegação e sacrifício, ou se apenas sabia como fazer as coisas.
O que conta a lenda é que Penélope nunca cedeu ao medo, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria. Mas como são incompletas essas lendas! A história devia ter contado os milhares de trabalho que Penélope, com toda certeza, teve em defender sua casa e seu coração, e não apenas contar os feitios heróicos e batalhas de Ulisses. De nada valem tantas batalhas, se comparadas com a luta pela sobrevivência de um amor incerto e sem garantias durante mais de vinte anos, num tempo em que a ausência não tinha outra resposta, se não o silêncio e o desconhecimento. Mas Penélope era forte. Não desistiu de esperar, mesmo sem telefones, e-mails, MSNs, Skypes, ou mensagens enviadas por celular.
E Penélope continuava seus trabalhos, sentada a fiar o tapete que fazia de dia e desfiava de noite, para que seus pretendentes nunca tivessem o pretexto de casar com ela. Imagino Ulisses a entrar em casa e ver Penélope, linda, serena, intocada pelo tempo, como se os anos não tivessem passado por ela, à espera dele, exatamente como no dia em que se despediu no porto e o viu embarcar.
Acho que a beleza e a graça feminina perdem força e brilho com a convivência, mas que a astúcia, o humor e a inteligência são atributos que se transformam em beleza e nunca enjoam os homens inteligentes, ao contrário das bonecas de porcelana sem cérebro que eles desejam como objetos de prazer e que depois as substituem por outras mais jovens e mais belas.
Gosto de pensar na espera e na espera por você, por gostar igualmente de pensar em você. E só faço isso porque na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, que adquiri ao longo da minha história, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por você. E eu gosto de ouvir essa voz, me embala nas noites em que não consigo dormir e me anima de manhã, quando um novo dia chega e quando eu penso o quanto pode ser frustrante a minha espera.
Bom, agora irei embora. Deixo aqui algumas pistas, caminhos, nada mais posso fazer, se não o que fiz, te escrever. Não tenho orgulho, este não serve de nada se não aquece o meu coração. Talvez você ache que sou fraca, ou louca, mas só os fortes e loucos o suficiente têm coragem de mostrar as suas fraquezas. Enfim, é justo quando já não esperamos mais nada das pessoas que estas morrem em nossos corações. É por isso que eu te escrevo, pois sofro da ‘vocação de Penélope’, e escrevo para te dizer que te espero.
Ao contrário do que pensamos, cada escravo carrega a chave da sua própria liberdade, e aqui temos uma, se não a tua, a minha.
Todo tempo que não é dedicado a se fazer aquilo pelo que sentimos paixão é tempo perdido. E tudo que não é dado, perde-se. Por isso, te dou estes escritos e com ele, todas as chaves que você conseguir achar, tudo que você puder descobrir e sentir ao recebê-lo.

domingo, janeiro 18, 2009

48 horas

Não, não se trata daquele seriado de TV norte-americano... Mas foi quase aquilo... Esse fim de semana que passou, primeiro do ano, primeiro de muitos, muitos de muitos e ainda tantos de outros ainda antigos muitos. Essas últimas 48 horas estive com tanto amigos, tão imersa de tantos outros, um eu misturada e em meio a tantos, a tantos mundos diferentes, ou, pelo menos diferente dos que estou acostumada a ser, a conviver, a fazer parte de. Estive envolvida num mundo que não era meu, ou que havia muito tempo, não estava acostumada, não lembrava-me que tal mundo também era meu, talvéz sempre fora meu... No entanto, fazia tempo que não andava por esta parte da casa dos compartimentos que há em mim, lugares, por vezes inabitados dentro de mim. Foram 48 horas de sorrisos, gargalhadas, lembranças, novos conhecidos, momentos únicos, como únicos são todos os momentos. Mas momentos incrivelmente especiais, como não havia tido durante todo o ano que passou e que chegou ao fim. Falei bobagens, ouvi tantas besteiras... Como não conversava há séculos, como não me dispunha a ser há séculos. 48 horas de muito do que rir... Mas percebo agora (quase iniciada uma crise declarada de abestinência) que estive também durante essas mesmas 48 horas sem qualquer contato com as palavras, minhas palavras, ou ao menos, tantas vozes de tantos outros que ficam a ecoar em mim e através de mim. Estive, na verdade, por 48 horas, sem um teclado, um papel, um livro ou uma tela e, talvez, exatamente por esse motivo tenha estado com tanta gente e tão longe de mim, do que conheço e estou acostumada em mim, meus pensamentos andarilhos, dessa vez não só vagaram por aí, mas literalmete sairam ao encontro de outros pensamentos reais, concretizados em tantas vozes que ouvia... Acabei por me dar conta de uma relação tão proporciaonal e aplicada a noção de distânciamento. Ou seja, quanto mais nos socializamos, mais des-só-centralizados estamos... E eu não ouso sequer tentar entender tal fenômeno, mas apenas me reservo o direito de escrever sobre, descrever tal experiência. Pois as 48 horas tão sociáveis e intensamente vividas deixaram de ser minhas simplesmente, assim como também deixaram de ser públicas, elas pertencem a ninguém e, ao mesmo tempo, pertencem a todos nós que ali estávamos. Enfim, apenas escrevo aqui e agora para saciar minha sede de um deserto de gente, onde havia de tudo, menos um método de registro e tempo de solidão suficientes para tamanha gota d’água – de gente – com quem estive para, me socializando, me sentir também um pouco menos des-só-centralizada. O que agora, já quase imersa na crise declarada de abestinência de estar só em mim mesma, me pego aqui a fazer o registro do momento – 48 horas.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Tolas portas ENTRE-abertas

Creio que há algo de bom em tudo que vejo. Quando sinto vontade pulo de cabeça nas coisas, não sei ser 48, 50 ou metade... Ou sou 8 ou sou 80, e acredito que a isso se dê o nome de paixão. Pois é... Acho que sou uma apaixonada, tenho paixão pelas coisas, pelos acontecimentos, pelos fatos e pessoas por onde passo, não conseguiria ser diferente, quando sinto que é chegada a hora, eu corro e atravesso o rio, pulo de cabeça, me reinvento, transcendo a tudo e qualquer coisa que havia prometido, me comprometido ser. Mas nem por isso deixo de cair, Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Desisti de ter medo das minhas quedas. Elas acabam por me humanizar, me ajudam a compreender o significado de um monte de coisas sem explicações, e até me ajudam a produzir pérolas. Afinal, “Ostra feliz não faz pérola”, já dizia Rubens Alves, como me ensinou um novo amigo. Eu não sou por acaso. Sou o próprio caso, o casco, também já fui casaco, mas hoje estou mais ao acaso mesmo. Sou assim, fui sempre assim, e assim sigo sendo... Às vezes, chego a me imaginar como Alice... É, Alice no país das Maravilhas, a se atirar sem saber onde, correndo atrás de um coelho, que simplesmente teve um desentendimento com o tempo... E Alice sai se jogando em tudo quanto é buraco que o coelho entra, e em tudo quanto é porta pelas quais o coelho passa. Penso que Alice só queria conhecer um pouco daquele mundo fantástico que o coelho parecia fazer parte e conhecer tão bem, hora se sentindo grande demais, hora se sentindo pequena demais, minúscula perante as situações as quais se envolvia... Pois bem, me sinto quase Alice...
Bom, pra quem já foi Emília, pelo menos, não perco a linha. Linha infantil, ingênua, que acredita em Lua de Cristal, abrindo todas as portas de curiosidade e me arriscando a experimentar coisas, viver situações impossíveis. A cada nova amizade que faço, paquera, namorado em potencial, eu nunca penso em sentir qualquer coisa além de amizade, pois tenho medo, mas às vezes tudo muda. Acabo entrando por uma daquelas portas, e quando percebo, às vezes, tarde demais, a porta bate e eu já nem sei se me lembro o caminho de volta, da saída. E aí o que antes era apenas motivo de risada entre nós, começa a me assustar e aí passo do tamanho de gigante a pequena, minúscula, perdida... Acho que isso não é bom. Quero sair logo daqui, nem que seja pra entrar por outra porta, não quero me sentir tão pequena, antes grande e espaçosa, sem saber onde pisar... Pois em estando pequena tenho medo que pisem em mim..., um sorriso, uma porta nova e linda, tão maravilhosamente diferente de tudo que já vi, e pronto já me considero presa. Talvez com o tempo eu perceba outras coisas, coisas essas todas confusas agora. Mas o agora é tudo o que tenho e é com ele que tenho que aprender a conviver. Eu tenho que calar-me por um tempo, me re-encontrar, achar o caminho de volta, e então, voltar a ser eu, eu e você, amigos simplesmente como nunca deveria ter deixado de ser. No entanto sinto a sensação que estou te perdendo para sempre, como me perdi ao longo do caminho. Há em mim um sentimento de culpa, por isso me o-culpo para não pensar em você. O que aconteceu? Algo inexplicavelmente mágico, que tal como mágica está se esvairindo em nada, qualquer coisa de bom que tenha acontecido. E o que esperar agora? Nada, simplesmente não esperar, mas deitar na grama, tentar ler um livro, e não me deixar levar por um coelho em busca de um mundo encantado a passar na minha frente com sonhos mágicos e tolas portas ENTRE-abertas...