domingo, agosto 16, 2009

Como pode ser...

por Juliana Barreto
Perturbação, sono, insônia, mente cansada, corpo descansado, necessidade de concentração, desejo de estar só, desejo de não mais pensar em você, descaso, descanso, cansaço, cansaço de tentativas em vão de mudar o acaso, um caso, um simples caso que ao acaso foi tão bem começado e mal acabado. Mas, ainda assim, um caso. Um caso com dia e hora marcada para acontecer. Faço forças pra me lembrar da minha determinação, do meu foco. Quero esquecer a solidão, solidão de você. Não, não existe solidão, tudo não passa de delírios, sonhos, uma realidade irreal, inventada por mim e que não existe, mas persiste. Está tudo na minha cabeça, ou será que estaria em meu coração? Não, melhor não pensar nessa sensação. Mas como fazer isso se até dormindo, tentando fugir da minha realidade, do real que vivo de estar acordada e pensar em você, acabo adormecendo e sonhando com você? Mas eu acordo, me levanto assustada, desesperada, com raiva de mim mesma por não conseguir nem em sonho fugir de você, pensar em você, sonhar com você... Mais uma vez. Só me resta a esperança de ter sido a última vez e proto. Ponto final. Um ponto final era tudo que eu mais queria agora. Poder digitar, escrever, simplesmente, bater com todas as minhas forças enfaticamente naquela tecla de “ponto final”. O problema é que teria tanta vontade de fazer isso, que ao fazê-lo bateria insistentemente, tentando inutilmente fazer daquilo um ponto final, o que para minha surpresa e desespero, estaria apenas transformando meu ponto final em reticências mil, reticências infinitas, tudo isso no desespero de simplesmente dar um ponto final a você, a mim, a nós... Não consigo, transformo tudo em reticências. E me odeio por, na tentativa de ser forte, me tornar tão fraca. Aproveito-me do mar e do seu barulho que me embala, ai é quando me lembro do quanto ligado ao mar você diz ser, e logo penso que posso estar inconscientemente traduzindo no embalar do som do mar, as suas mãos a me acariciar, a tocar os meus cabelos. Tenho uma vaga lembrança de que sempre tive medo do mar, assim como sempre temi grandes icebergs, mas não mais. Aproveito-me do nascer do sol e do pôr do sol para me acalmar, mas logo lembro que um dos meus melhores “olhar o sol” foi justamente quando estava com você. Sei que aqui onde estou tem um mundo cheio de graça lá fora para conhecer, mas passa o tempo e percebo que estou apenas entregue a ponto de estar sempre só, esperando um sim ou um nunca mais. Não me perguntes se quero ou não quero, se consigo ou não consigo. Só te peço que assim seja. Sei que você é ligado a mim, por isso, sempre que estou indo, tentando me livrar de você, volto atrás. Mas você não está apenas ligado a mim. Ao mesmo tempo sinto vida em mim, um absoluto dom que me foi dado de existir assim como sou. Na minha solidão não há solidão, nem pena, mas apenas doação e milagres do amor, amor à vida e ao que quero e faço dela. Enfim, só sei que quero tanto te esquecer, mas só de pedir me lembro... Não pedirei mais, mas apenas me deixarei embalar pelas ondas do mar até adormecer e acordar em uma outra existência, quando alguém poderá sim ser amado por mim e, quem sabe, tudo acontecer. Mas por agora a única coisa que me vem à mente é um pensamento: “como pode ser...?”

quarta-feira, julho 29, 2009

Da Unicap de cá direto para Unicamp de lá


Pois bem, vou resumir a história. Saímos, um belo grupo de “meninas” e dois meninos, direto do nordeste pernambucano de cá para o sudeste paulistano de lá. Todos, pois, de mentes arregaçadas, cansadas, desprovidas de uma construção de sentido de qualquer coisa que fosse, após ter sobrevivido a um doloroso e pavoroso primeiro semestre de Mestrado, pois é mes-tra-do (se é que eu ainda sei como se separa sílabas). Pois bem, como ia dizendo, pra que danado inventamos esse tal de passear por lá? Ainda não sei se estávamos querendo “aparecer bem na fita” para os nossos orientadores de cá, ou se estávamos simplesmente querendo tirar os nossos pobres e mofados casaquinhos para passear por lá... O que sei é que o tal passeio teve de tudo menos o tal do assistir palestras enfadonhas... Pra começar, chegando ao evento, descobrimos que as nossas pobres bundinhas, acostumadas ao calorzinho da areia úmida da praia de cá, teriam que sentar num cimento frio e gelado de lá, uma arquibancada de ginásio muito mal disfarçada de auditório chique. Depois, deram inícios às arrumações e colocações de casacos, botas, cachecóis, luvas, parecíamos mais uma vitrine de árvore de Natal, todas decoradas com milhões de arranjos, tentando em vão, nos proteger do frio de lá... Foi inútil! Por fim era um tal de dedo do pé roxo pra cá, dedinhos dos pés doídos de lá, unha encravada pra cá, compra alicate pra lá... Era tanta mulher reclamando dos pés doloridos... Também, pudera, tudo acostumada a andar só de chinelas havaianas por esses lados de cá, coitadas! Chegando lá também tinha um prédio chamado de Educação que as salas eram ordenadamente indicadas por “ÊD 1”; “ÊD 2”; “ÊD 3” e assim por diante, pronúncia típica do paulistanês de lá. Mas quem disse que a gente acertava achar essas salas? Perguntava-se para todos os lados onde ficavam as salas “ÉD 1”; “ÉD 2”; “ÉD 3”, seguindo a risca a pronúncia típica do pernambuquês de cá... E nada de encontrar sala alguma. Era um tal de rodar pra cá, andar pra lá, dividir o taxi pra cá, juntar o dinheiro pra lá... Até, que quando se achavam as salas, os pés já estavam doloridos demais pra sentar e assistir uma palestra enfadonha... “VamuX pro shopping?”; “vamuX voltá pro hotel?”; “melhor esperar pelaX outraX pra dividí o taxi!”; “oooxiii, o negócio caro da bixiga!”; “mas a noite a gente sai, num sai?”; “só se fô depois de ‘Arebaba’”; “tú avisaX aoX outroX, visse?, que eu já vô íno, que meus pés tão dueno que só a mulesta! Visse?”; “até maiX ver”. E quando chegava a hora da novela era um tal de ligar pra um apartamento de cá, comentar a novela de lá... Isso, sem contar no tanto de fotos, era um tal de tirar foto pra cá, segurar um tanto de máquinas fotográficas pra lá... E as palestras enfadonhas? Nem sinal... Houve até quem se inspirasse nas "das doidas" que passeavam por lá como tema de mestrado de cá... E há quem diga que o Congresso foi muito cansativo. Cansativo mesmo foi carregar aquele ‘mói’ de roupa o tempo todo pra lá e pra cá! Pois bem, este foi um breve relato do que rolava pra lá e pra cá, lá na Unicamp de lá, direto da Unicap de cá...

agora e também, mais uma vez, na mesma época...


Costumava andar, dedilhar, escrevilhar
(mistura de escrever com vasculhar)
fuçar por aqui
quando também, na mesma época
acredito agora
vivia uma vida completamente normal.
Mesmo que, também, na mesma época
eu não a enxergasse exatamente assim.
Pois bem, agora e também, mais uma vez
acreditando não ser minha vida normal
volto a escrever
agora não mais como antes.
Mas, de um eu a observar o meu próprio eu
(continuo me lendo, agora e também, mais uma vez, na mesma época...)
Pois bem
deixemos de loucuras insanas e passemos as loucuras sanas, sanadas...
Estou eu aqui em lugar algum
fazendo não sei o que!
Pode até parecer estranho
mas é a mais pura verdade...
Saí da minha vida
abandonei casa, filha, família e babá
(não abandonei marido, pois este já tinha abandonado tempos atrás),
fui de encontro a algo que ainda não encontrei.
Também, na mesma época
sai em direção a algum lugar
mas fiquei pelo caminho.
Estou num nem aqui, nem acolá
alguma cidade chamada de Nem, no Estado do Entre.
E o mais interessante disso tudo
é que o estado em estando me convida a vagar e estar no está mais uma vez...
E é nesse estando que me pego pensando
que já nem penso que estou em lugar algum
fazendo não sei o que.
Me pego
simplesmente
pen-insan-o este momento tão frutífero de minha vida.
Agora e também, mais uma vez
como na época de na mesma época
não sei mais o que é dia ou o que é noite
o que está fora ou o que está dentro
guio-me apenas pelo som do mar e pela luz do sol ou da lua que vejo
agora e também, mais uma vez, por sobre esse mar.
Acho que o nome desse lugar é lar.
Bem vinda de volta ao lar.

sábado, abril 11, 2009

Arranhões, “engasgos”??? Sigamos...

Sinto-me estranha, sei que estou bem de saúde, mas sinto algo machucando lá dentro, algo parecido a uma dor muito forte, bem no meio de mim, algum lugar não identificado entre o estomago, o coração e o pulmão. Parece que algo está entrando e me cortando por dentro. Mas não se trata de nenhuma arma, pelo menos, não vejo ninguém por perto me apontando qualquer coisa parecida. Já posso até sentir umas pontadas aqui e outras ali a me furar, me arranhando por dentro. Já sei, deve ter sido uma espinha de peixe, ou melhor, de tubarão! Daquelas que fica atravessada e não há jeito de colocá-la pra fora. A gente cospe, tenta enfiar o dedo lá dentro da garganta, forçando um vômito que nunca vem se frustra e chora, sem entender a dor...
E é quando penso, mas o que eu fiz para me sentir assim? Tomei tantos cuidados? Segui minha “dieta” direitinho, tão bem, que, por vazes, cheguei até a sentir um vazio, um oco no estômago. E agora, aqui com esse algo atravessado em mim, dentro de mim, penso se não teria sido mais “saudável” sentir o vazio, o oco... Esse não me doía, não me incomodava e nem me arranhava. Também não precisaria forçar sua saída, pois nada havia lá.
Às vezes penso que já passei por tudo, já experimentei de tudo. Já cai tantas vezes, assim como já fui capaz de me levantar outras tantas. Penso que sou forte, que me tornei forte e que estou aqui, firme pra o que der e vier...
Sentia-me exatamente assim, de tão segura, por ter toda a certeza do mundo que nada poderia me abalar que pude até pensar que já não precisava de minhas armas.
Desarmei-me, não pensei, acho que fui levada a não pensar, ou achei que não precisaria pensar por pensar estar tão segura.
Nem sei ao certo como tudo aconteceu, o que sei é que estive por alguns dias muito bem, feliz, leve, estava sem minhas armas e estava feliz por não ter que carregá-las mais comigo aonde quer que eu fosse. Por alguns dias soltei gargalhadas leves e sorrisos presos, pairei horas com cara de boba a olhar o nada...
Mas enfim descubro que nada aconteceu. Tudo não passou de um sonho, que durou uma noite apenas e fim. Fui feliz!
Aqui estou eu de volta com todas as minhas armas em punho, que, por vezes, na pressa da saída, as esqueço em algum lugar e acabo engolindo espinhas de peixe, de tubarão, enormes a me cortar por dentro.
Mas, não mais. Acabou, passou. Sobrevivi (como sempre). E agora estou de volta, sigo em frente, caminhando, porém, mais atenta, de olhos bem abertos. E aqui, sentada à minha mesa, percebo que a “catástrofe”, ou melhor, o “engasgo” não me levou, mas me revelou algo sobre os sentidos: o gosto amargo na boca pode até incomodar. Mas, possuímos dois outros sentidos que nunca devemos abandonar: a visão e o caminhar. Então, sigamos...

sábado, abril 04, 2009

Escolhas: ex ou não, eterno relacionar-se.

Tudo na vida se resume as escolhas que fazemos. Escolhas essas que nos leva direto a um relacionar-se com determinada escolha e, dali pra frente, colher o que plantamos. Colher os frutos de todas as nossas escolhas, muitas vezes, ex-escolhas, mas que já não podemos mais abrir mão. Está feito, já foi escolhido, plantado, colhido.
E, embora, leve toda uma vida de eternas colheitas do que escolhemos, mesmo sendo ex-escolhas, já não podemos mais nos desfazer delas. Terá de haver um modo de conviver, relacionar-se com todas as coisas que escolhemos. Nunca poderão ser ex-escolhas. Perpetuarão em nós, em nossos relacionamentos, seja conosco, com o outro ou com os outros. E estes, por sua vez, aparecerão em nossas vidas, igualmente, cheios de suas colheitas, podendo ser ex-escolhas ou ainda, simples, escolhas.
Resta-nos lembrar que todas as nossas escolhas serão, se já não são, os fatos, as pessoas que um dia iremos nos tornar. Lugares, pessoas, vida, escolhas, todas as nossas escolhas têm autonomia e poder de criar uma simbiose conosco, o que é natural que com o tempo se apropriem de nós e nós delas.
Portanto, escolher evoca um dilema, e, talvez, o mais intenso de todos, o dilema da escolha.
A despeito de muitas vezes esta escolha se configurar como uma dúvida entre uma pessoa e outra, um fazer ou outro, um ir ou vir, um falar ou calar, um ser ou não ser, é exatamente a dúvida, que mesmo incômoda, nos confere uma sensação de paralisia.
Por tudo isso, há de se permitir que a paralisia leve-nos a pensar melhor a respeito das escolhas, do confronto e da dinâmica do relacionar-se, para o resto de nossas vidas, com nossas ex-escolhas e escolhas, enfim, conosco.

segunda-feira, março 23, 2009

Passado – Eterno Presente!

Hoje, já quase amanhã, quase 24 de março, resolvi escrever diferente. Postar alguns pensamentos, sentimentos. Na verdade, quero expressar sob forma de linguagem saudade, quero traduzir saudade – sentimento de falta, de solidão, do se sentir só, mesmo não estando só, mas simplesmente longe dos que amamos, pedacinhos de nós que construímos e nos colamos a eles ao longo da vida. Mas como fazer isso?
Tantos filósofos questionaram a linguagem e seu poder de representação do mundo, das idéias, do conhecimento. São tantas as teorias que dizem a linguagem ser capaz de significar tantas coisas.
Mas não! Não existe tal linguagem que possa traduzir certas abstrações que se encontram exclusivamente em nosso coração, em nossa alma. Não existem palavras que possam traduzir o que sinto agora. Por isso, hoje escrevo assim, escrevo de maneira diferente, tento colocar para fora algo exclusivamente meu. E mesmo que em completo estado de sobriedade no assunto, ainda assim o farei. Tentarei dizer o indizível, o não-dito que não é, mas que ao mesmo tempo é um eterno vir a ser, pelo menos, em mim.
Hoje estou realizando um sonho. Estou onde eu queria estar. Estou fazendo exatamente o que queria fazer. Mas o que faço com a realidade que ficou para trás enquanto tudo isso não passava de um desejo? O que faço com minha antiga realidade? Será que esta virou para mim um sonho, que ainda, e talvez, por total falta de costume, ainda insisto em viver?
Estou me construindo em um novo ser, em uma nova vida. Mas enquanto me construo, assim como num quebra-cabeça, que ainda não está terminado, não sei onde colocar, nem o que fazer, com algumas pecinhas presas as minhas mãos. Só sei que no final, quando o sentimento de êxito e, ainda assim, igual sentimento de frustração surgirem por ter, finalmente, concluído meu quebra-cabeças, saberei exatamente onde essas peças se encaixam. Mas, por agora, só sei que as tenho na mão e as carrego comigo aonde vou... Até o momento que sei, saberei exatamente onde colocá-las.
Apresento-lhes agora as peças do meu quebra-cabeça que me acompanham, que fazem parte de mim e ao mesmo tempo não mais:
Ouvir vir não sei de onde a palavra “professora”; ler textos tão “vagamente precisos” de um amigo com “lacunas cheias de presentes”; Falar ao vento, falar de nada e de tudo, falar aos meus alunos; Fingir saber o que achava não saber...
E como sabia... Sempre soube que saberia que esse momento chegaria, mas nunca, nunca me preparei para tal.
Saudade. Saudade do passado, de um passado eternamente Presente.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Dirscurso - Colação de Grau - Letras 2008


Ahhh... UnP! Há poucos dias cheguei, estacionei meu carro, atravessei o campus, (é estranho como aquele lugar em nada parece ser a UnP que conhecemos sem a presença de todos vocês, de todos nós, por todos os lados), subi as escadas, me dirigi à direção do Curso de Letras, para resolver algumas pendências... Ainda não tinha imaginado que seria o meu último dia (pelo menos, por esse ano).
Em 19 de Julho de 2006, eu chegava a UnP, a mesma UnP, porém um campus diferente – Campus Roberto Freire, sala 119, turma 4NA, disciplina Prática em Estudos da Linguagem. Eu caminhava pelos corredores sem a confiança de hoje, aliás, com uma enorme desconfiança e sem saber ao certo o que norteava aquele grupo, e mais, sem saber que iria encontrar duas turmas tão seletas, tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo, tão especiais. Vocês, juntamente com todos os nossos professores aqui presente, se tornavam para mim, naquele momento, minha nova família.
Demos início a essa caminhada juntos, eu retornava a casa e vocês iniciavam o segundo ano no Curso de Letras. Era minha primeira aula na instituição, mas, não exatamente minha primeira aula na UnP, apenas minha primeira aula como professora. Entrei naquela sala ansiosa, curiosa, sedenta por conhecer quem eram eles, meus alunos. Talvez estivesse apenas tentando me ver ali, entre vocês, tentando me enxergar em cada um de vocês. Pois não havia muito tempo, tinha estado exatamente naquela mesma situação, mas, na época, eu era de fato um de vocês, e por que não dizer um de nós? Pois bem, vamos ao nós e ao que ficou por ser dito sobre nós depois de todo esse tempo juntos.
Acredito que nada na vida acontece por acaso, como acredito que não é por acaso que hoje estou aqui com uma missão tão honrosa, uma missão dupla, proferir algumas palavras a todos vocês em meu nome e em nome da nossa querida professora, Conceição Flores, também paraninfa desta turma de Letras. E o que não seria tamanha responsabilidade, se lembrarmos que, exatamente, como vocês, também já fui aluna de Conceição? Ou que igualmente, e não faz tanto tempo, já estive onde vocês estão hoje? O que me leva direto a uma certa confusão de papeis, a princípio por não saber que pronome seria o mais apropriado a ser utilizado aqui, eu (professora Juliana)?, eu (ex-aluna Juliana)?, nós (Professora Conceição Flores e eu)?, nós (eu e vocês) – eternos alunos do Curso de Letras da UnP? Na dúvida, utilizarei apenas e simplesmente “nós”, para que, disfarçada de nós, professores e professoras, alunos e alunas, eu possa, finalmente, dar vazão ao sentimento de paixão que nutrimos pela profissão e pelo Curso de Letras da UnP, nosso lar.
Lar/Home é uma forma especial de se definir a casa, local onde nos reunimos, nos encontramos para dividir e multiplicar os assuntos pertinentes e tão característicos a esse ambiente.
E somos muitas suas devedoras e devedores. E nossas dívidas são de natureza diversa. Aprendemos aqui uma certa maneira de olhar a linguagem, o sujeito e a vida. O que é possível fazer hoje em sala de aula e o sentido que damos a essa prática, herdamos dele, do Curso de Letras e da tão falada “alma”, sempre lembrada pela Professora Célia Barbosa, sempre existente em nosso Curso, em nosso lar. Ele trilhou e construiu para nós e antes de nós o caminho que hoje percorremos.
Para além do campo teórico e metodológico, aprendemos com esse nosso Lar, coisas que nem mesmo suspeita ter-nos ensinado, atitudes que dizem respeito não apenas à postura formal do professor de Letras, mas à conduta do homem. Ética, lealdade, tolerância, determinação são algumas delas.
Por tudo isso, o clichê de dizer o quanto nos sentimos honradas pelo convite, no meu caso, se desfaz em função da densidade emocional de ser parte dessa história, de, assim como vocês, ter o sobrenome UnP. É imperativo ressaltar que realizar essa apresentação é um emocionante privilégio para mim. Acredito que muitos poderiam e desejariam assinar este texto, esse discurso, pois como nós, sentem gratidão, admiração, respeito e profundo afeto por tudo isso que se tornou o nosso Lar. Esperamos que essas pessoas se sintam representadas por nós e pelos demais aqui presentes.
Tantas foram as lições que aprendemos nesse nosso lar e, num processo contínuo, nunca deixaremos de aprender. A sala de aula é o habitat privilegiado do professor. E para os bons professores, uma aula, mais do que uma tarefa a ser realizada, é uma paixão a ser desfrutada. Quem quer que tenha frequentado o Curso de Letras, com toda certeza, se deparou, em muitos momentos, com professores e alunos-professores transbordando de paixão. Mas o calhamaço de papeis e os muitos livros que carregavamos eram pistas de que, por trás da inspiração apaixonada, havia muito trabalho, muito investimento pessoal. E hoje, evento este que aqui presenciamos comprova tal trabalho, árduo e cotidiano.
Apesar do arduo trabalho, dedicação e do amplo espectro de temas, acreditamos que a importância efetiva do trabalho do professor de Letras está menos naquilo do que é dito e mais em como é dito. É nesse ponto que a grandeza de todos nós, eternos alunos-professores e professores-alunos, sobressai. No entanto, não devemos abrir mão da profundidade em nome de uma suposta necessidade de adequação ao público aluno. Nossa conduta deve-se guiar permanentemente em buscar uma linguagem simples para dar a conhecer o complexo, não levando receitas prontas para sala de aula, mas pressupondo o comprrometimento do aluno no percurso do aprendizado, num trabalho colaborativo entre quem ensina e quem aprende.
Devemos lembrar sempre de buscar exemplos novos a cada novo curso a estagnar reflexões em demonstrações que já deram certo, rfeletindo um perfil de professor que não se acomoda, que não se esquiva do trabalho pesado. Essa postura de professor reflete claramente uma atuação como pesquisador, para quem o conhecimento está sempre se refazendo, sempre em processo de reconstrução, pois pesquisar para um professor deve ser uma tentativa incessante e sempre provisória de explicar o mundo.
Pois, como ressalta Donald Davidson em “The Varieties of Knowledge”, “Quando contemplamos o mundo real que partilhamos com os outros, não perdemos o contato conosco, mas nos reconhecemos como membros de uma sociedade de mentes. /.../ E essa comunidade de mentes é a base do conhecimento e a medida de todas as coisas”
A organicidade em termos teóricos indica a condição firme de um professor pesquisador preocupado com o rigor científico e com a coerência interna a cada exposição de seu pensamento. Tudo isso permeado pela hipótese sociointeracional de base cognitiva. E os assuntos que abordaremos em sala de aula sempre estarão atrelados as velhas e boas questões de sentido, da cognição e da linguagem, que nos é tão presente em nosso lar – o Curso de Letras.
A sala de aula também constitui para todos nós um grande laboratório de investigação, onde conhecer não é um ato individual, mas uma ação cooperativa, o professor não se porta como dono absoluto do saber e da sala de aula, mas como um co-participante, superando a pedagogia em que o professor se limita a transmitir ou repetir o já sabido, mas aposta na construção coletiva do conhecimento. Afinal os grandes professores se aventuram em um curso não para comunicar o que já sabem, mas para pensar sobre uma coisa que desejam muitíssimo conhecer, para lançar um olhar reflexivo sobre algo, e aprender juntamente com seus alunos.
E foi nessa interação, entre todos nós, professores-alunos e alunos-professores que hoje estamos aqui, para continuar essa história que nos precede, que nos gera, que nos habita, que é nossa tarefa, nosso destino, nossa dignidade, enfim, o único lugar possível para nós.
Hoje, 17 de fevereiro de 2009, nosso, igualmente e mais uma vez, último dia, e repito, pelo menos, oficialmente, e, por enquanto. Desconfiança não existe mais. Passeamos pelos corredores da UnP como se ali fosse a nossa casa, nosso lar, nosso ponto de encontro. Compramos uma pipoca Bokus em uma das lanchonetes, e, às vezes, até filamos um cafezinho da sala dos professores, não cruzamos um corredor sequer sem cumprimentar pelo menos um bedel, sempre dispostos a nos ajudar. Por vezes vamos até Bruno, Mazinho, cheios de problemas, solicitações, pedidos e até imposições, como também, vamos lá simplesmente para visitá-los e jogar conversar fora, quando a professora Célia nunca perde a oportunidade de nos chamar para saber como estamos, como vão as coisas, ou, simplesmente, para anunciar e comemorar junto conosco algum novo feito realizado por nós, pelo Curso de Letras. Pois é, realmente ali é a nossa casa. E hoje, nós a deixamos.
Mas partimos com uma certeza: ali eu fui feliz! Fomos felizes, fomos alunos, sempre chamados pelos nomes e não meros números! E assim como sei que vocês sentem agora, meu coração também dói por partir, pois a UnP, e devo dizer, em especial, o Curso de Letras, sempre me recebeu, nos recebeu, de tapete vermelho estendido, de portas abertas e garantia de sorrisos nos rostos. Pois é, acabou, e agora José? E agora José Romerito, Nevinha, vocês, queridos alunos e colegas de profissão, como faremos sem essa casa, sem nosso lar?
O homem nunca está satisfeito, estávamos loucos para dar início a uma nova etapa de nossas vidas, e agora, que ainda nem sequer acabou, já estamos sofrendo de saudades. Mas já? Pois é, e pode ter certeza, demorou... Demorou porque saudades teriam que ser sentidas durante esses quatro anos, durante todas as aulas, durante todos os intervalos, durante todos os eventos. Saudades deveriam ser sentidas antes, porque assim aproveitaríamos mais cada momento, cada intervalo, cada reunião, cada evento.
Saudades sinto, saudades vou sentir, saudades todos nós sentiremos.
Gostaria de agradecer a cada um que participou do “nosso” Curso, da “nossa” Universidade, sem uma única exceção. Um beijo em todos que fazem parte dessa turma, essa família que conviveu durante esse tempo todo, com algumas diferenças é verdade, mas o que é uma família sem diferenças? Não seria família, não seria um lar.
Por último, o nosso muito obrigado a vocês, a nós, a todos nós que fazemos o Curso de Letras da UnP, que juntos damos corpo e alma a esse Curso, que para sempre é e será o nosso LAR.
A vida hoje toma um novo rumo, os encontros serão mais raros, as brincadeiras também, alguns ficarão mais longes que outros, é a vida. Mas sei que ainda nos encontraremos muito, por corredores de escolas, em eventos, em nossa eterna casa, na UnP e, finalmente, nas aulas que a vida nos dá, sempre.
Foi um prazer estarmos juntos, caros colegas, obrigada!
Professora Juliana Barreto

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Icebergs

Calmaria… Sem sopro de vento fica mais difícil enxergar um iceberg. Alguns dizem poder sentir o cheiro do gelo de longe... Talvez por já ter conhecido e encontrado alguns... Algumas pessoas, que poderiam facilmente ser confundidas com grandes, enormes e, muitas vezes, invisíveis icebergs em sua grandiosidade.
Icebergs têm o poder de cortar, atravessar tudo e qualquer coisa que ouse encostar neles. Portanto, a menor percepção da presença de um iceberg devemos tentar mais que depressa, com todas as nossas forças, desviarmos do todo poderoso, sempre confiante; embora alguns desavisados, inocentes crentes corajosos, se arrisquem a chegar perto e, até mesmo, tocar para, ao toque do gelo, sentir o calor que o gelo é capaz de causar. Pois é, gelo também queima, corta... E, se passamos muito tempo perto dele, tocando-o, sentindo-o, nossa pele fica avermelhada, ardendo em chamas! Por tudo isso, acredito que há de se temer, tomar algumas precauções ao sentir a calmaria se aproximar. Talvez esteja ali um grande iceberg a nos afundar, ou pelo menos, a nos afogar por alguns instantes, quando, momentos depois, emergimos na superfície da água, já quase sem fôlego, buscando ar para respirar novamente e, enfim, sobreviver.
Pois ao final, só precisamos disso, de AR, ardendo ou não, mas entrando e saindo dos nossos pulmões.
E quanto a mim, tenho tudo que preciso comigo, ar em meus pulmões e pedaços de papeis, às vezes, até um PC ao meu alcance, para poder fazer tudo valer à pena (até mesmo, grandes icebergs)!!!

Diário de tua Ausência

Gostaria que nesse exato momento você me imaginasse te falando em voz baixa. Falamos sempre baixo quando somos profundamente sinceros e quando queremos verdadeiramente que acreditem em nossas palavras. E tudo o que aqui escrevo é verdade.
Pensei em você, pensei em te fazer companhia, pensei em te dizer tantas coisas, pensei que queria ouvir muitas coisas de você, e na ausência de você, ou de saber o que fazer, resolvi simplesmente escrever.
Sempre penso no porquê de escrever. Tenho medo que todas as palavras que escrevo não passem de fragmentos de uma confissão de momento. Fico sempre com a sensação que falta o essencial, que o mais importante ficou por dizer.
Mas foi assim, escrever foi o que decidi fazer. E só peço que guardes as palavras escritas aqui para sempre em seu coração.
Escrevemos porque ninguém pode nos ouvir, às vezes por opção, e às vezes pela falta dela. Eu escrevo para você porque você está longe.
Não sei ao certo se espero por você. Mas me agrada a idéia de pensar na espera. Acredito que todas as mulheres sempre esperam pelos homens, ou, pelo menos, pelo homem certo, estejam eles longe ou perto, ao que isso chamo de ‘vocação de Penélope’.
Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses (acredito não são muitas as pessoas, que ainda nos dias de hoje, concordariam comigo), que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e roubasse o trono de Ítaca. A lenda não diz se ela satisfez suas necessidades sexuais com outros homens, por isso nunca saberei se aquela mulher era realmente um modelo abnegação e sacrifício, ou se apenas sabia como fazer as coisas.
O que conta a lenda é que Penélope nunca cedeu ao medo, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria. Mas como são incompletas essas lendas! A história devia ter contado os milhares de trabalho que Penélope, com toda certeza, teve em defender sua casa e seu coração, e não apenas contar os feitios heróicos e batalhas de Ulisses. De nada valem tantas batalhas, se comparadas com a luta pela sobrevivência de um amor incerto e sem garantias durante mais de vinte anos, num tempo em que a ausência não tinha outra resposta, se não o silêncio e o desconhecimento. Mas Penélope era forte. Não desistiu de esperar, mesmo sem telefones, e-mails, MSNs, Skypes, ou mensagens enviadas por celular.
E Penélope continuava seus trabalhos, sentada a fiar o tapete que fazia de dia e desfiava de noite, para que seus pretendentes nunca tivessem o pretexto de casar com ela. Imagino Ulisses a entrar em casa e ver Penélope, linda, serena, intocada pelo tempo, como se os anos não tivessem passado por ela, à espera dele, exatamente como no dia em que se despediu no porto e o viu embarcar.
Acho que a beleza e a graça feminina perdem força e brilho com a convivência, mas que a astúcia, o humor e a inteligência são atributos que se transformam em beleza e nunca enjoam os homens inteligentes, ao contrário das bonecas de porcelana sem cérebro que eles desejam como objetos de prazer e que depois as substituem por outras mais jovens e mais belas.
Gosto de pensar na espera e na espera por você, por gostar igualmente de pensar em você. E só faço isso porque na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, que adquiri ao longo da minha história, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por você. E eu gosto de ouvir essa voz, me embala nas noites em que não consigo dormir e me anima de manhã, quando um novo dia chega e quando eu penso o quanto pode ser frustrante a minha espera.
Bom, agora irei embora. Deixo aqui algumas pistas, caminhos, nada mais posso fazer, se não o que fiz, te escrever. Não tenho orgulho, este não serve de nada se não aquece o meu coração. Talvez você ache que sou fraca, ou louca, mas só os fortes e loucos o suficiente têm coragem de mostrar as suas fraquezas. Enfim, é justo quando já não esperamos mais nada das pessoas que estas morrem em nossos corações. É por isso que eu te escrevo, pois sofro da ‘vocação de Penélope’, e escrevo para te dizer que te espero.
Ao contrário do que pensamos, cada escravo carrega a chave da sua própria liberdade, e aqui temos uma, se não a tua, a minha.
Todo tempo que não é dedicado a se fazer aquilo pelo que sentimos paixão é tempo perdido. E tudo que não é dado, perde-se. Por isso, te dou estes escritos e com ele, todas as chaves que você conseguir achar, tudo que você puder descobrir e sentir ao recebê-lo.

domingo, janeiro 18, 2009

48 horas

Não, não se trata daquele seriado de TV norte-americano... Mas foi quase aquilo... Esse fim de semana que passou, primeiro do ano, primeiro de muitos, muitos de muitos e ainda tantos de outros ainda antigos muitos. Essas últimas 48 horas estive com tanto amigos, tão imersa de tantos outros, um eu misturada e em meio a tantos, a tantos mundos diferentes, ou, pelo menos diferente dos que estou acostumada a ser, a conviver, a fazer parte de. Estive envolvida num mundo que não era meu, ou que havia muito tempo, não estava acostumada, não lembrava-me que tal mundo também era meu, talvéz sempre fora meu... No entanto, fazia tempo que não andava por esta parte da casa dos compartimentos que há em mim, lugares, por vezes inabitados dentro de mim. Foram 48 horas de sorrisos, gargalhadas, lembranças, novos conhecidos, momentos únicos, como únicos são todos os momentos. Mas momentos incrivelmente especiais, como não havia tido durante todo o ano que passou e que chegou ao fim. Falei bobagens, ouvi tantas besteiras... Como não conversava há séculos, como não me dispunha a ser há séculos. 48 horas de muito do que rir... Mas percebo agora (quase iniciada uma crise declarada de abestinência) que estive também durante essas mesmas 48 horas sem qualquer contato com as palavras, minhas palavras, ou ao menos, tantas vozes de tantos outros que ficam a ecoar em mim e através de mim. Estive, na verdade, por 48 horas, sem um teclado, um papel, um livro ou uma tela e, talvez, exatamente por esse motivo tenha estado com tanta gente e tão longe de mim, do que conheço e estou acostumada em mim, meus pensamentos andarilhos, dessa vez não só vagaram por aí, mas literalmete sairam ao encontro de outros pensamentos reais, concretizados em tantas vozes que ouvia... Acabei por me dar conta de uma relação tão proporciaonal e aplicada a noção de distânciamento. Ou seja, quanto mais nos socializamos, mais des-só-centralizados estamos... E eu não ouso sequer tentar entender tal fenômeno, mas apenas me reservo o direito de escrever sobre, descrever tal experiência. Pois as 48 horas tão sociáveis e intensamente vividas deixaram de ser minhas simplesmente, assim como também deixaram de ser públicas, elas pertencem a ninguém e, ao mesmo tempo, pertencem a todos nós que ali estávamos. Enfim, apenas escrevo aqui e agora para saciar minha sede de um deserto de gente, onde havia de tudo, menos um método de registro e tempo de solidão suficientes para tamanha gota d’água – de gente – com quem estive para, me socializando, me sentir também um pouco menos des-só-centralizada. O que agora, já quase imersa na crise declarada de abestinência de estar só em mim mesma, me pego aqui a fazer o registro do momento – 48 horas.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Tolas portas ENTRE-abertas

Creio que há algo de bom em tudo que vejo. Quando sinto vontade pulo de cabeça nas coisas, não sei ser 48, 50 ou metade... Ou sou 8 ou sou 80, e acredito que a isso se dê o nome de paixão. Pois é... Acho que sou uma apaixonada, tenho paixão pelas coisas, pelos acontecimentos, pelos fatos e pessoas por onde passo, não conseguiria ser diferente, quando sinto que é chegada a hora, eu corro e atravesso o rio, pulo de cabeça, me reinvento, transcendo a tudo e qualquer coisa que havia prometido, me comprometido ser. Mas nem por isso deixo de cair, Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Desisti de ter medo das minhas quedas. Elas acabam por me humanizar, me ajudam a compreender o significado de um monte de coisas sem explicações, e até me ajudam a produzir pérolas. Afinal, “Ostra feliz não faz pérola”, já dizia Rubens Alves, como me ensinou um novo amigo. Eu não sou por acaso. Sou o próprio caso, o casco, também já fui casaco, mas hoje estou mais ao acaso mesmo. Sou assim, fui sempre assim, e assim sigo sendo... Às vezes, chego a me imaginar como Alice... É, Alice no país das Maravilhas, a se atirar sem saber onde, correndo atrás de um coelho, que simplesmente teve um desentendimento com o tempo... E Alice sai se jogando em tudo quanto é buraco que o coelho entra, e em tudo quanto é porta pelas quais o coelho passa. Penso que Alice só queria conhecer um pouco daquele mundo fantástico que o coelho parecia fazer parte e conhecer tão bem, hora se sentindo grande demais, hora se sentindo pequena demais, minúscula perante as situações as quais se envolvia... Pois bem, me sinto quase Alice...
Bom, pra quem já foi Emília, pelo menos, não perco a linha. Linha infantil, ingênua, que acredita em Lua de Cristal, abrindo todas as portas de curiosidade e me arriscando a experimentar coisas, viver situações impossíveis. A cada nova amizade que faço, paquera, namorado em potencial, eu nunca penso em sentir qualquer coisa além de amizade, pois tenho medo, mas às vezes tudo muda. Acabo entrando por uma daquelas portas, e quando percebo, às vezes, tarde demais, a porta bate e eu já nem sei se me lembro o caminho de volta, da saída. E aí o que antes era apenas motivo de risada entre nós, começa a me assustar e aí passo do tamanho de gigante a pequena, minúscula, perdida... Acho que isso não é bom. Quero sair logo daqui, nem que seja pra entrar por outra porta, não quero me sentir tão pequena, antes grande e espaçosa, sem saber onde pisar... Pois em estando pequena tenho medo que pisem em mim..., um sorriso, uma porta nova e linda, tão maravilhosamente diferente de tudo que já vi, e pronto já me considero presa. Talvez com o tempo eu perceba outras coisas, coisas essas todas confusas agora. Mas o agora é tudo o que tenho e é com ele que tenho que aprender a conviver. Eu tenho que calar-me por um tempo, me re-encontrar, achar o caminho de volta, e então, voltar a ser eu, eu e você, amigos simplesmente como nunca deveria ter deixado de ser. No entanto sinto a sensação que estou te perdendo para sempre, como me perdi ao longo do caminho. Há em mim um sentimento de culpa, por isso me o-culpo para não pensar em você. O que aconteceu? Algo inexplicavelmente mágico, que tal como mágica está se esvairindo em nada, qualquer coisa de bom que tenha acontecido. E o que esperar agora? Nada, simplesmente não esperar, mas deitar na grama, tentar ler um livro, e não me deixar levar por um coelho em busca de um mundo encantado a passar na minha frente com sonhos mágicos e tolas portas ENTRE-abertas...