sexta-feira, janeiro 23, 2009

Diário de tua Ausência

Gostaria que nesse exato momento você me imaginasse te falando em voz baixa. Falamos sempre baixo quando somos profundamente sinceros e quando queremos verdadeiramente que acreditem em nossas palavras. E tudo o que aqui escrevo é verdade.
Pensei em você, pensei em te fazer companhia, pensei em te dizer tantas coisas, pensei que queria ouvir muitas coisas de você, e na ausência de você, ou de saber o que fazer, resolvi simplesmente escrever.
Sempre penso no porquê de escrever. Tenho medo que todas as palavras que escrevo não passem de fragmentos de uma confissão de momento. Fico sempre com a sensação que falta o essencial, que o mais importante ficou por dizer.
Mas foi assim, escrever foi o que decidi fazer. E só peço que guardes as palavras escritas aqui para sempre em seu coração.
Escrevemos porque ninguém pode nos ouvir, às vezes por opção, e às vezes pela falta dela. Eu escrevo para você porque você está longe.
Não sei ao certo se espero por você. Mas me agrada a idéia de pensar na espera. Acredito que todas as mulheres sempre esperam pelos homens, ou, pelo menos, pelo homem certo, estejam eles longe ou perto, ao que isso chamo de ‘vocação de Penélope’.
Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses (acredito não são muitas as pessoas, que ainda nos dias de hoje, concordariam comigo), que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e roubasse o trono de Ítaca. A lenda não diz se ela satisfez suas necessidades sexuais com outros homens, por isso nunca saberei se aquela mulher era realmente um modelo abnegação e sacrifício, ou se apenas sabia como fazer as coisas.
O que conta a lenda é que Penélope nunca cedeu ao medo, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria. Mas como são incompletas essas lendas! A história devia ter contado os milhares de trabalho que Penélope, com toda certeza, teve em defender sua casa e seu coração, e não apenas contar os feitios heróicos e batalhas de Ulisses. De nada valem tantas batalhas, se comparadas com a luta pela sobrevivência de um amor incerto e sem garantias durante mais de vinte anos, num tempo em que a ausência não tinha outra resposta, se não o silêncio e o desconhecimento. Mas Penélope era forte. Não desistiu de esperar, mesmo sem telefones, e-mails, MSNs, Skypes, ou mensagens enviadas por celular.
E Penélope continuava seus trabalhos, sentada a fiar o tapete que fazia de dia e desfiava de noite, para que seus pretendentes nunca tivessem o pretexto de casar com ela. Imagino Ulisses a entrar em casa e ver Penélope, linda, serena, intocada pelo tempo, como se os anos não tivessem passado por ela, à espera dele, exatamente como no dia em que se despediu no porto e o viu embarcar.
Acho que a beleza e a graça feminina perdem força e brilho com a convivência, mas que a astúcia, o humor e a inteligência são atributos que se transformam em beleza e nunca enjoam os homens inteligentes, ao contrário das bonecas de porcelana sem cérebro que eles desejam como objetos de prazer e que depois as substituem por outras mais jovens e mais belas.
Gosto de pensar na espera e na espera por você, por gostar igualmente de pensar em você. E só faço isso porque na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, que adquiri ao longo da minha história, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por você. E eu gosto de ouvir essa voz, me embala nas noites em que não consigo dormir e me anima de manhã, quando um novo dia chega e quando eu penso o quanto pode ser frustrante a minha espera.
Bom, agora irei embora. Deixo aqui algumas pistas, caminhos, nada mais posso fazer, se não o que fiz, te escrever. Não tenho orgulho, este não serve de nada se não aquece o meu coração. Talvez você ache que sou fraca, ou louca, mas só os fortes e loucos o suficiente têm coragem de mostrar as suas fraquezas. Enfim, é justo quando já não esperamos mais nada das pessoas que estas morrem em nossos corações. É por isso que eu te escrevo, pois sofro da ‘vocação de Penélope’, e escrevo para te dizer que te espero.
Ao contrário do que pensamos, cada escravo carrega a chave da sua própria liberdade, e aqui temos uma, se não a tua, a minha.
Todo tempo que não é dedicado a se fazer aquilo pelo que sentimos paixão é tempo perdido. E tudo que não é dado, perde-se. Por isso, te dou estes escritos e com ele, todas as chaves que você conseguir achar, tudo que você puder descobrir e sentir ao recebê-lo.

2 comentários:

Silvio disse...

Esperar, por vinte anos, e manter-se idêntica é lenda ... os anos levam a nossa espera e a espera leva os nossos anos ... Não temos tantos anos assim para dar à espera. Espero que não esperes, e não desesperes, porque esperar pode ser romântico, nas lendas, na litura. Na vida, porém, esperar é deixar os anos passarem por nós sem senti-los. Deixe que todos os outros tenham a oportunidade que Penélope não deu aos seus pretendentes ... e pretenda que ao menos um desses outros seja o esperado.

Eloisa G. disse...

Eu concordo. E sinceramente nunca li carta de amor mais bonita. E ainda sobre essa carta, tenho uma dúvida.