domingo, agosto 16, 2009

Como pode ser...

por Juliana Barreto
Perturbação, sono, insônia, mente cansada, corpo descansado, necessidade de concentração, desejo de estar só, desejo de não mais pensar em você, descaso, descanso, cansaço, cansaço de tentativas em vão de mudar o acaso, um caso, um simples caso que ao acaso foi tão bem começado e mal acabado. Mas, ainda assim, um caso. Um caso com dia e hora marcada para acontecer. Faço forças pra me lembrar da minha determinação, do meu foco. Quero esquecer a solidão, solidão de você. Não, não existe solidão, tudo não passa de delírios, sonhos, uma realidade irreal, inventada por mim e que não existe, mas persiste. Está tudo na minha cabeça, ou será que estaria em meu coração? Não, melhor não pensar nessa sensação. Mas como fazer isso se até dormindo, tentando fugir da minha realidade, do real que vivo de estar acordada e pensar em você, acabo adormecendo e sonhando com você? Mas eu acordo, me levanto assustada, desesperada, com raiva de mim mesma por não conseguir nem em sonho fugir de você, pensar em você, sonhar com você... Mais uma vez. Só me resta a esperança de ter sido a última vez e proto. Ponto final. Um ponto final era tudo que eu mais queria agora. Poder digitar, escrever, simplesmente, bater com todas as minhas forças enfaticamente naquela tecla de “ponto final”. O problema é que teria tanta vontade de fazer isso, que ao fazê-lo bateria insistentemente, tentando inutilmente fazer daquilo um ponto final, o que para minha surpresa e desespero, estaria apenas transformando meu ponto final em reticências mil, reticências infinitas, tudo isso no desespero de simplesmente dar um ponto final a você, a mim, a nós... Não consigo, transformo tudo em reticências. E me odeio por, na tentativa de ser forte, me tornar tão fraca. Aproveito-me do mar e do seu barulho que me embala, ai é quando me lembro do quanto ligado ao mar você diz ser, e logo penso que posso estar inconscientemente traduzindo no embalar do som do mar, as suas mãos a me acariciar, a tocar os meus cabelos. Tenho uma vaga lembrança de que sempre tive medo do mar, assim como sempre temi grandes icebergs, mas não mais. Aproveito-me do nascer do sol e do pôr do sol para me acalmar, mas logo lembro que um dos meus melhores “olhar o sol” foi justamente quando estava com você. Sei que aqui onde estou tem um mundo cheio de graça lá fora para conhecer, mas passa o tempo e percebo que estou apenas entregue a ponto de estar sempre só, esperando um sim ou um nunca mais. Não me perguntes se quero ou não quero, se consigo ou não consigo. Só te peço que assim seja. Sei que você é ligado a mim, por isso, sempre que estou indo, tentando me livrar de você, volto atrás. Mas você não está apenas ligado a mim. Ao mesmo tempo sinto vida em mim, um absoluto dom que me foi dado de existir assim como sou. Na minha solidão não há solidão, nem pena, mas apenas doação e milagres do amor, amor à vida e ao que quero e faço dela. Enfim, só sei que quero tanto te esquecer, mas só de pedir me lembro... Não pedirei mais, mas apenas me deixarei embalar pelas ondas do mar até adormecer e acordar em uma outra existência, quando alguém poderá sim ser amado por mim e, quem sabe, tudo acontecer. Mas por agora a única coisa que me vem à mente é um pensamento: “como pode ser...?”

2 comentários:

Silvio disse...

Como? Pode ser!
Bem .. algumas alterações na grafia trazem de volta a energia de uma decisão fria: PODE SER!
E ser, pode! Trocadilho infame para lembrar que tudo pode ser, como? Não sei, mas que pode, pode ...
e depois de saber que tudo pode ser, fica fácil: ésó poder ser o que se pode, sem que se pode a bela planta que brota na alma, à beira-mar ...

Abner Castro disse...

Puxa, você se expressou muito bem! Parabéns. Gostei de ler seus textos. Algumas coisas tem tudo a ver comigo...

Continue assim!
Abraços