quinta-feira, dezembro 18, 2008

Procriando mundos...

Outro dia ouvi de alguém que a maneira mais eficaz de nos conhecermos melhor é viajando, saindo do nosso habitat natural! Acho que esse alguém tinha razão. Ao sair, ir de encontro ao que não conhecemos, acabamos por descobrir não só um lugar novo, mas um mundo novo dentro de nós mesmos. E eis que encontrei algo, coisas, pessoas, e, por fim, um alguém.
O que agora escrevo para esse alguém, também para todos os alguéns com quem estive nesses últimos dias e, por fim, para mim mesma.
Certo dia, também ouvi de minha filha: “mamãe, você é muito ESPESSOAL!” Adorei aquilo! Seria (como comentou um sábio conhecido), um especial sem identidade, um ex-pessoal, agora público, pessoalmente especial, pessoal e especial ao mesmo tempo!
Pois bem, diria que estive com pessoas especiais e, por fim, estive com alguém simplesmente espessoal! Com certeza já havíamos estado juntos antes, até mesmo no sentido literal das palavras, mas também, e com a mesma certeza, nunca havíamos nos encontrado antes de fato.
Estou falando de sintonia, de sintonizar o próprio ser e estar, aqui ou ali, comigo e com o outro. Acho que dessa vez, e, pela primeira vez, você me viu, me conheceu e você só me conheceu quando eu fui você. Mas, ao mesmo tempo, você não me reconheceu porque ainda não se sabe eu.
Quanto a mim e eu, talvez, ter sido o outro, ter sido você, provavelmente, eu também era eu naquele momento. Eu sempre fui muitas. É complicado entender isso, mas eu sempre fui muito em muitas, mesmo sendo uma só a todo tempo. Só depende de como e quem se disponibiliza a me ver.
Quando estabelecemos uma sintonia com nós mesmos, percebemos com mais nitidez o outro, com mais vontade conseguimos ser o outro. No entanto, geralmente nosso grau de miopia não nos permite ver as coisas, o algo, os alguns, os alguéns, ou mesmo um alguém espessoal.
É tudo uma questão de reflexo. Tudo, todos por quem passamos, quem encontramos: esses são todos reflexos nossos apenas.
E, às vezes, nos deparamos com alguns reflexos que não nos reconhecemos neles, esses são o nosso lado careta, nossa parte limitada, nosso ser ignorante, todos eles se manifestam através dos outros que cruzam nosso caminho.
A maioria de nós quer seguir um caminho descrito pelos outros, traçado pela ilusão do outro de ver em nós simplesmente a si mesmo. Poucos têm força, coragem, determinação, firmeza para não “refletir” o outro, e traçar o próprio caminho.
Li por aí que existem milhares de eu-pressores, mas acredito que todos os eu-pressores estão em nós, só precisamos nos transformar, fazer uso do nosso próprio reflexo nos outros e não nos deixar contaminar por reflexos alheios de pessoas, pressões, eu-pressores. É preciso inverter, reverter, inserir-se em contextos inadmissíveis, possibilitando realidades fictícias, materializar sonhos, deixar que o inadmissível se torne admissível e o impossível possível. Precisamos ser como um livro aberto com mais de infinitas páginas, falando, descrevendo, escrevendo, gritando sobre mais do que tudo, sobretudo, gritando infinitamente sobre tudo.
Bom, vou indo... Acho que finalmente chegou a hora de refletir... É tempo de produzir, de não "mudar" e "mudar", preciso me separar de você agora para poder "mudar" minhas idéias, meus afazeres necessários gritantantes e os desnecessários "mudos"...
Criados-mudos!
Enfim, tenho que ir...
Mas te mando notícias de mim, se souber alguma...
E, enquanto isso... vamos criando-mudos, procriando mundos!

Um comentário:

Silvio disse...

Eu até diria, numa gíria paulista: Pô! Criando mundos?!!!? Só para acrescentar que alguns se indignam com nossos mundos criados, nossos criandos mundos, mudos por si, porque criados, serviçais ... e ainda assim, nossos ... mais mundos do que mudos, mais criados, de inventados, do que criados, de serviçal ... e todos serviçais de nossa imaginação fértil .... ou putrefata, não importa. É nossa.