O enigmático sob o olhar chasconado
Por Juliana Barreto
Enigmático, esconde por trás de uma barba hippie, um olhar triste, de homem vivido, misturado ao sorriso alegre, de menino levado. Poderia, facilmente, ser considerado parte integrante de um movimento, que se convencionou chamar de contracultura, mas apenas e, exclusivamente, se esta figura tivesse pertencido aos desinfreados anos 60 e 70, que não é o caso.
Entretanto, pode-se dizer que o mesmo, em plenos tempos atuais, todavia adota um estilo de vida “maldito”, tendendo a uma espécie de socialismo-anarquista ou, no mínimo, que entra em desacordo com valores tradicionais da classe dita burguesa e das economias capitalistas e totalitárias. Trata-se, portanto, de um ser dotado de patriarcalismo, em busca de produzir cultura da terra e autêntica, exclamando contra a massificação, o consumismo, o autoritarismo, e os valores tradicionais, que, para tal, não tem legitimidade.
Enigmático sim, pois apesar dessa apresentação inicial, o dito-cujo ainda se alimenta também de uma condição sócio-cultural pertencente ao capitalismo contemporâneo caracterizado pelo fim das metanarrativas – grandes esquemas explicativos que garantiam à ciência o poder de verdade absoluta, pasmem: o cidadão vive de ciência, pertence ao planeta, ainda quase inesplorado, da acadêmia.
Embora haja controvérsias quanto ao seu significado e pertinência, o bom uso ou o mau emprego do protagonista e do termo ‘enigmático’, respectivamente, se tornou evidente aos olhos de uma personagem completa e rudemente chasconada. Tais controvérsias possivelmente resultem da dificuldade de se examinar processos em curso com suficiente distanciamento e, principalmente, de se perceber com clareza os limites ou os sinais de ruptura no dado processo.
Segundo alguns desavisados e utilizadores do ‘termo’, esta ‘condição’ enigmática caracteriza-se, principalmente, como crítico cineficista latino transgressor, o que poderia justificar sua lógica cultural sócio-anarquista tardia, correspondendo a uma realidade ambígua, tal qual seu olhar sério e sorriso maroto, multiformemente mascarados pela barba hippie, de homem conhecedor das idéias que operam na superação de si mesmo, na tentativa de questionar o mundo que o cerca.
Humildemente, La Chascona prefere denominá-lo “hippier-enigmático”, por considerar não ter havido, de fato, uma croncretização de um ser maldito, mas apenas a busca, o tentar o ainda-não-ousado, o novo, que por sua vez incorre em transgressão, ruptura com os tempos modernos, não como subversão da ordem, mas como implementação, criação, e, quem sabe, complementação.
Já o objeto de estudo, aqui descrito, concebe o conceito ‘enigmático’ de forma mais simplista, relacionando-o à posturas politicamente polidas, determinadas a portar-se de modos sóbrios, silenciando e calando qualquer tentativa de exito ou de exposição.
Um dia ri a mente
Há 8 anos